Na minha última semana de trabalho fui até o arquivo-morto da empresa procurar um documento que havia sido perdido. É um lugar esquecido, talvez poucos funcionários o conheçam. Para chegar lá, é preciso passar por um corredor com várias portas, que geralmente está com todas as luzes apagadas. Então se sobe uma escada de madeira improvisada, sem corrimão, e chega-se no teto do prédio. Lá de cima há uma bela vista da gráfica, das máquinas funcionando, das pilhas de livros e dos funcionários, que nem sequer imaginam que você está lá em cima.
Fiquei parte da tarde naquele lugar meio escuro, empoeirado, junto a lâmpadas quebradas e caixas de vários departamentos. Eu e o silêncio. Às vezes cantava, revirando aquelas pilhas de documentos esquecidos. Ninguém lembrava deles, que um dia foram descartados, ninguém lembrava do arquivo-morto que os abrigava, naquele momento ninguém devia lembrar de mim, misturada à poeira e às caixas velhas. E eu já estava mais próxima do arquivo-morto do que del...