Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2005

assinatura

Sinto se te incomodo, leitor, mas as lembranças de infância continuam povoando a minha mente, e não me deixam. E penso que talvez será assim durante a minha vida. Aliás, acredito que os momentos da nossa infância sempre irão nos cutucar de vez em quando. Mas você pode, quem sabe, encontrar algo interessante na passagem que contarei a seguir. De repente, vi-me com duas opções: ou escrevia esta lembrança ou não escrevia nada, pois não conseguia me empolgar com outro assunto. Depois de muito tempo com a dúvida, optei por escrever. Brincava com a minha prima em um dos quartos vazios da casa de nossos avós. Eis que chegam nossos dois irmãos mais velhos, com folhas de papel e caneta na mão. Eles nos perguntaram se tínhamos uma assinatura. Nós, simples meninas de cinco anos, nem sabíamos direito o que era isso. Então, vimos naquele momento uma oportunidade de adquirir uma. A explicação era simples: “Faça um rabisco nesta folha, do jeito que vocês quiserem”. Mas havia uma ressalva: “quanto mai

não gosto de despedidas

Ela tinha vindo da Bahia para Brasília e morava no meu apartamento. Joana era uma moça morena, tinha os cabelos pretos, lisos e compridos e só andava de saias rodadas que beiravam os joelhos. Cuidava de mim e do meu irmão. Contava histórias de sua terra, e falava de jerimum, e de outras coisas de lá. Leite para ela, era leite-de-coco. E eu ficava deslumbrada quando ela me falava que lá os pequis eram enormes, carnudos. Que maravilha seria poder comer daqueles, eu que estava acostumada a raspar com os dentes a escassa poupa dos pequis goianos, chegando quase a correr o risco de ter a língua tomada pelos espinhos de seu caroço. Lembro que ela assistia conosco ao Jornal Nacional e toda noite, no final do programa, respondia alto para para a TV: “Boa noite!” Um dia acordamos e Joana não estava em casa. Lembro que desci ao térreo com minha mãe, e o porteiro disse que tinha visto ela ir embora com suas coisas. Deixou uma carta. Eu ainda não sabia ler, mas lembro-me muito bem da enorme lista

mendigos

O leitor que acompanha este blog deve ter perdido a conta de quantos posts meus falam de mendigos. Aos que se irritam com isto, sinto muito, mas não consigo me controlar. Pois é muito difícil passar por eles indiferente, ainda por cima porque muitas vezes estão fazendo coisas curiosas, como dar socos no ar ou falar coisas sem sentido. Toco neste assunto agora, pois foi justamente a minha observação em dois mendigos hoje de manhã que me levou a escrever o post abaixo.

mc dia feliz

Na Paulista, carros em fila com bexigas coloridas, bandas de música. Fuzuê. Na calçada, dois mendigos, um de frente para o outro, devorando seus big macs. De qualquer forma, espero que as crianças recebam o máximo de ajuda possível e possam ficar bem.

Marte mais brilhante

Vi em jornais, recebi por e-mails a notícia de que esta noite Marte estaria tão próximo da Terra como não ficava há 5 mil anos. E diante de previsões que cogitam a possibilidade de que evento parecido pode se repetir talvez só daqui a 60 mil anos, senti-me até no dever de não desperdiçar o fenômeno. Hoje, na despedida de um amigo, algum convidado chegou a lembrar no início da festa da notícia, mas depois de horas de cervejas, cachaças, cantorias, conversas e gritarias, tenho minhas dúvidas de que alguém se lembrava que Marte estava no céu, se é que alguém se lembrava que existia céu. Eu também haveria me esquecido, se quando chegasse em casa não tivesse ouvido antes de dormir uma música que falava sobre o brilho das estrelas e da lua. Então, conferi na agenda do meu micro (sim, eu anotei)o dia e o horário do acontecimento, e me toquei que o pico do evento havia acontecido poucos minutos atrás. Olhei então para o céu entre as persianas e enxerguei somente meu armário refletido na vidra

bbb - barrigas, bebês e baboseiras

Às vezes fico tão envolvida com a idiodice ao meu redor e até com a minha própria, que esqueço que ela está em toda a parte do mundo. Mas ontem uma notinha no jornal fez questão de não me deixar esquecer. Fiquei sabendo que os holandeses, não contentes mais com o tradicional formato do Big Brother, criarão uma nova versão (talvez até porque as variantes com gordos, políticos e o diabo a quatro já estão ficando obsoletas). Agora a casa será ocupada apenas por mulheres grávidas, e que cumpram o requisito de estarem no sexto ou sétimo mês de gestação. Sim, pois a intenção é que as finalistas tenham o parto dentro da casa. Que maravilha...

aniversário

Não quis deixar de fazer esta observação: percebi hoje que meu blog completou um ano há pouco menos de um mês. 30 de julho. Fiz, então, uma visita por todos os posts já escritos. Durante esta longa viagem ao tempo, percebi que meus posts eram muito mais curtos. Hoje arrisco escrever uns maiores, para azar ou (quem sabé até...)sorte do leitor. Não tenho tendência a escrever textos longos ( é até um desafio para mim) e também acho que não dão muito certo para blogs. De qualquer forma penso assim: tudo bem, sejam longos, mas sejam interessantes! Um dia consigo esta proeza!

pés no chão

Depois do sucesso arrebatador de pontos finalíssimos (02/09/2004), que contou com a expressiva participação de 1 comentário, escrevo mais uma de minhas memórias de infância. Às vezes, quando anoto o número de um telefone ou um número qualquer perto de uma pessoa mais observadora, ela comenta: "Nossa, como você faz o três engraçado!" Ou se não: "Olha, você faz o oito diferente!". Sim, sei explicar o porquê. É porque tenho o costume de começar a fazer alguns dos números de baixo para cima. Daí esta sensação das pessoas de que algo está estranho. E imagino que esta minha prática vem de longos anos. Pois tenho ainda forte em minha memória uma cena da minha infância em que desci para o parquinho com minha mãe carregando papéis e lápis de cor. Lembro que sentei no chão, apoiei o papel em um banco de cimento e comecei a elaborar meus desenhos, como sempre fazia. Foi que surgiu uma chilena que morava em um dos apartamentos próximos e falou: - Que curioso! Ela começa a dese

dentro da Lanchonete Angolana

À noite, de volta para casa, do ônibus, ela quase sempre vê na Augusta o mendigo que durante toda a tarde fica na rua ao lado, às vezes quieto, às vezes gritando coisas sem sentido e assustando quem passa. Sim, mas é incrível como que à noite, em frente à Lanchonete Angolana, ele parece ter de volta toda a sua socialidade, sempre com um copo na mão e de vez em quando conversando com alguém. Para ela, ele sempre parecera alguém incapaz de dialogar com quem quer que fosse. Um dia, depois de meses vendo a mesma cena, ela levantou-se antes do seu ponto. Meio hesitante, apertou o botão para parar. Por um momento se arrependeu, mas quando o ônibus parou, não havia ninguém mais para descer,e ela, meio sem jeito, saltou do ônibus. A Lanchonete Angolana estava do outro lado da rua. Pensou em continuar a pé o caminho para casa, mas por que estava alí? Tomou coragem e atravessou a rua. Passou ao lado do mendigo, ele com sempre, estava na calçada, com um copo plástico na mão, e não a percebeu. Ela

sim, peguei o buquê

A mulherada se reunia eufórica e a noiva já estava se preparando, de costas para elas. Disse à colega do meu lado: "Vamos lá". "Fujo disso", ela respondeu. "Da última vez, uma baixinha rasgou o meu vestido". Vi que o negócio podia ser violento mesmo. Depois de insistir em vão, resolvi: "Eu vou lá". Como ficar de fora de umas das brincadeiras femininas mais divertidas nos casamentos? Fiquei no canto. Pensei: "não estou na direção da noiva, só pego se ela tacar bem torto!" O que seria bem improvável, na minha opinião. A noiva, de costas, levou com as duas mãos o buquê para o alto. Momentos de emoção. Gritaria histérica. Senti um leve arranhão da moça da frente no meu dedo, mas não adiantava mais: o buquê estava nas minhas mãos. No dia seguinte: "Não acho que você vai casar agora...". Respondi: "Eu também não". E me lembraram de algo: "Mas segundo a tradição, quem pega o buquê é a próxima a casar". De repente,

Cinco amigos

Cinco amigos em um carro voltando à cidade natal. No caminho partilham as mesmas músicas, porém as músicas soam diferentes em cada uma das mentes. Um dorme a viagem quase inteira. Dois convesam a viagem quase inteira. Dois escutam a viagem quase inteira. E falam de carreira, de trabalho, de viagens, de experiências que tiveram nos mais diversos lugares: Estados Unidos, Londres, Austrália, Ásia, e enquanto isso, ao redor da estrada, bois pastam tranqüilamente nos pastos. Cinco mundinhos de calça jeans dentro de um carro em um ponto do mundo. De repente, o cheiro de usina de cana avisa que a viagem logo acabará. Quem dormia, acorda. Quem falava, emudece. Quem ouvia, se mexe e fala algumas palavras. A bucólica paisagem da estrada que chega à cidade desperta as mais variadas sensações nos cinco viajantes. Momento de silêncio. O vento entra pelas janelas e bate nas caras e nos cabelos. Os pensamentos são tantos que tomam conta de todo o espaço do carro. Ao acaso, pego o daquele que não nasc

fragmentos eróticos

É possível se ter uma idéia de como se falava de sexo vários séculos antes de Cristo através da produção de poetas gregos e latinos. Muito do que restou são fragmentos, e as elegias eróticas de Minmerno se perderam, por exemplo. Mas ainda dá para se divertir muito com a obra de Catulo. É interessante observar que naquela época já existiam metáforas como salsicha, figo e buraco para se falar de coisas que ainda hoje temos a insistente mania de não chamar pelo nome. Em um sábado ensolarado, de forte vento, imaginei um futuro distante, em que a nossa cultura, aterrada, em escombros, estivesse sendo pesquisada cuidadosamente por arqueólogos. Eles poderiam, quem sabe, encontrar a capa de uma revista que eu acabara de observar em uma banca de jornais na avenida Paulista: três mulheres peladas, em fila, uma segurando a cintura da outra, e a seguinte chamada: Piiiuuuííííí!!!!

persistência

Há um tempo lembrei de uma história e pensei em contar aqui. Ficou no pensamento até agora, pois havia esquecido de contá-la. Ontem a noite, intermediada por horripilantes sessões de tosses, lembrei dela de repente. E hoje, se alguma vozinha interior perguntou “ei, você não vai contar a história?”, fingi que não era comigo. Mas não consegui mais evitar quando até o filme que acabei de ver no cinema me perguntou: “ e a história, hein?” Sim, porque o filme era sobre um menino surdo e a minha história também. Não sobre um menino, mas uma menina. Nossa mente tem destas coisas. Eis que um dia você lembra de um fato da sua vida que parecia ter sido esquecido para sempre. E no meu caso, foi a lembrança da convivência com esta menina, surda e muda, que estudou comigo durante a terceira série, numa escola que inaugurava naquele ano. Lembro que toda a turma aprendeu a linguagem dos sinais por causa dela, mas o importante mesmo era incentivar Vanessa a nos ouvir e a falar. Com o tempo já ente

decepção

Ricardo tinha que encontrá-la. Ela tinha dado um sinal de que tudo poderia voltar, de que tudo poderia ser como antes. Ela não saía de sua mente e enquanto não a visse, não ficaria em paz. Resolveu fazer uma surpresa: iria esperá-la na saída da aula. Era uma tarde quente e abafada quando ele saiu de casa. Pegou um metrô e dois ônibus lotados e conseguiu chegar antes de a aula acabar. O céu escurecia e as nuvens ficavam carregadas. Começou a relampejar, a trovoar e uma forte chuva despencou de repente. Ensopado tentou abrigar-se debaixo de uma cobertura. O barulho da chuva era tanto que mal dava para ouvir o barulho da sirene que avisava o término da aula. Os alunos começaram a sair, um tumulto de carros, pessoas, guarda-chuvas formou-se em frente ao portão. Alguns saiam correndo com as pastas sobre as cabeças, com a tentativa de molhar-se menos. Os sapatos e as barras das calças ensopavam-se nas poças e enxurradas. Eis que o rosto dela surge no meio da confusão. Ela vai se desvencilhan

celofanes e purpurinas

Durante a minha infância ouvi, não lembro se de uma peça de teatro infantil, se de um filme ou de uma criança curiosa, que os fantasmas quando morriam viravam papel celofane. Lembrei disto hoje, quando procurava papel para enfeitar uma cesta de doces para a festa junina. Pensei a princípio, enfeitá-la com celofane vermelho, mas acabei optando pelos papéis de seda, que podiam ser vendidos avulsos. Na loja, havia celofanes de várias cores e os transparentes eram um pouco mais baratos. Mas os rolos com várias folhas eram mais opacos. Não tinham a transparência, a delicadeza e a fineza de uma folha sozinha, solta ao vento. Às vezes tenho a impressão que são como aquelas gelatinas sem sabor em lâminas, que ao contato com qualquer água morna, dissolvem-se. E penso, quantos fantasminhas plufts, gasparzinhos e camaradas não estão hoje nas papelarias e lojas de artigos para festas? Esperando para enfeitar aniversários infantis, festas juninas, beneficentes e escolares. Fazendo companhia a eles,

e uma boa hora para o senhor também

Na empresa, atendi o telefone. Ajudei um senhor a resolver o seu problema, e ele, agradecido, disse-me na despedida: “Que a Nossa Senhora do Bom Parto lhe dê uma boa hora. Realmente, eu precisava de boas horas naquele trabalho. Achei muito interessante este modo de enxergar as coisas. Ao invés de se falar “uma boa tarde”, ou “um bom dia”, se falaria “uma boa hora”. Agora porque justo a Nossa Senhora do Bom Parto foi escolhida para cumprir esta função, e não um Nossa Senhora qualquer, eu não sei. Educadamente, retribuí a cortesia: “Para o senhor também”. E ele respondeu: “Ei, para mim não”.

horário de almoço na Paulista

Era horário de almoço. Um bando de grandes homens engravatados, todos de terno em variados tons de cinza na calçada, vindo em minha direção. Entramos no mesmo local: um pequeno shopping na Avenida Paulista. Eu continuei andando pelos corredores, mas o grupo parou, como num consenso. Uma mulher que cruzava o meu caminho, olhava para a grande reunião de homens de terno e falou ao seu companheiro: “Eles gostam de brincar!”. Olhei para trás: estavam todos amontoados olhando atenciosamente para uma vitrine. Atrás dos vidros, dois cachorrinhos filhotes, branquinhos e fofinhos, brincavam um com o outro.

era quase meia-noite de sábado

Uma matéria sobre uma pesquisadora de blogs saiu no jornal da Unicamp desta semana. O início do texto me chamou atenção. Ficou gravado fortemente na minha memória. Era um trecho de um post de uma moça de 23 anos. Há poucos dias fiz 24, portanto a minha identificação com a menina foi grande. E principalmente com o tema , que apesar de se tratar de uma situação dela, com algumas variações, imaginei que poderia muito bem ser minha também. Ela falava mais ou menos assim com o leitor: "Veja a gravidade da minha situação. Tenho 23 anos. É quase meia-noite de sábado e eu estou costurando os buracos da minha calcinha". Bem, sexta-feira à noite, eu com meus recém-inaugurados 24 anos, estava em um bar, transbordando cerveja e provavelmente falando besteira. Porém 24 horas mais tarde estaria em casa, sozinha, estudando. Lembrei que havia deixado algo na máquina de lavar. Resolvi pendurar. Sim, era quase meia noite de sábado e eu estava pendurando minhas calcinhas no varal. Mera coincidê

meus posts no divã

Coloquei alguns dos meus posts na terapia. Gasto uma nota preta por mês por causa disso. Mas os mais rebeldinhos estavam me dando muito trabalho. Deixavam escapar minhas inseguranças, meus receios e minhas causas mal resolvidas. Agora toda semana, estiram suas perninhas no divã, e naquele ambiente a meia-luz, distraem-se olhando para os seus sapatos e para a parede, dizendo malcriações para o analista. E os safados ainda tem a coragem de me culpar pelos seus defeitos. Haja paciência!

lamento

Fazer uma segunda faculdade nos permite observar muitas coisas que seriam praticamente impossíveis de serem notadas quando éramos apenas calourinhos.Tantas coisas se repetem! Nas lotadas salas do curso de Letras identifico aqueles famosos tipos de alunos da minha antiga turma do jornalismo. Claro, cada qual com suas peculiaridades. Mas sempre presentes, talvez em todas as turmas de todos os cursos, neste ano, nos anos passados, no ano que vem, no próximo e no próximo... Mas há uma coisa que se houvesse percebido no meu primeiro ano de faculdade, ah... quanta diferença faria! Depois de dois meses freqüentando as aulas percebi que estudo com muitos colegas de 17 ou 18 anos. Que fazem perguntas, que fazem provas, trabalhos e riem das piadinhas dos professores. Alguns, nos trabalhos em grupo, editam e corrigem os textos e as idéias dos participantes com ar de doutores recém saídos do terceirão ou do cursinho. Fazem perguntas óbvias aos professores como quem acaba de descobrir uma grandiosa

esta contagem já está me chateando

Olha, cansei de perseguir os "além de" (ou será que são eles que me perseguem?) Vou registrar mais estas duas ocorrências e espero não registrar mais, pois já cansei desta brincadeira. O Estado de S. Paulo, 01/06/2005 - Caderno 2- Muito além de 'A Escrava Isaura' O Estado de S. Paulo, 02/06/2005 - Caderno 2- Muito além das mesas-redondas de futebol Creio que agora já devo ter convencido o leitor mais incrédulo de que o meu post vamos contar comigo tem fundamento. Agora quero encerrar esta contagem. Porém, não sei se vou resistir.

a crítica e a carapuça

No programa Provocações da TV Cultura, Antônio Abujamra entrevistava uma jovem escritora. No final, pediu para que ela olhasse para a câmera e falasse tudo o que tinha vontade. A moça, então, começou, com voz de revolta: “Críticos, vocês são apenas críticos!” Sim, concordo com ela. Mas se são apenas críticos, por que ela gastou com eles o espaço onde poderia falar “tudo o que tinha vontade e nunca teve chance de dizer”? Pelo jeito não são tão insignificantes assim na vida dela. Ela sequer conseguiu ignorá-los. Imagino que seja muito difícil mesmo ignorá-los, apesar de serem "apenas críticos". Muita gente diz menosprezá-los, escorraça-os, mas ao mesmo tempo gasta tempo, voz e textos e textos falando deles. Não posso dizer que as críticas não me afetam. Eu mesma tenho pescado algumas em textos e posts alheios, mesmo que não tenham sido feitas para mim. Acho que a carapuça serve às vezes. Vejo que o mais louco é que a mesma pessoa que malha os críticos, faz o papel de crítica

o orkut e os aniversários

Sempre me gabei por ter uma memória prodigiosa para os aniversários de amigos, parentes e conhecidos. Costumo, por exemplo, avisar as pessoas do aniversário de seus afilhados ou dos filhas de seus funcionários. Sempre fiz parte do grupo das amigas queridas, aquelas poucas que lembram todos os anos do seu aniversário e fazem questão de te ligar para dar os parabéns. Porém, este grupo seleto foi invadido. Lembrar dos aniversários já não é mérito nenhum. Hoje o orkut faz esta tarefa para nós. E eu, mesmo não precisando dos tais lembretes, sou uma entre os 50, 100, ou entre o tanto de pessoas que o aniversariante tenha em sua lista de contatos. Hoje, em vez do aniversariante receber algumas ligações das pessoas que realmente costumam lembrar de seu aniversário, ele recebe uma chuva de mensagens apressadas e repetitivas na seção de scraps. Até aquele amigo do amigo do amigo aparece lá, desejando-lhe um “ótimo dia”, um “feliz aniversário” ou um “parabéns”. Já é possível saber se a pessoa fez

passeio de ônibus

O ônibus freia. O corpo vai para frente e vai para trás. Volta a andar. Freia. O corpo vai para frente. Uma pausa. Vai para trás. Novamente em movimento. Um semáforo. Todos para a frente. Pausa. Expectativa. "Ué, não vai voltar para trás?" Aflição. "Se não voltar, vou ter um treco!" E o corpo vai novamante para trás. E assim, o ônibus continua em movimento.

alguém contando

Era daquelas adolescentes frescas e lindas. Cabelo comprido, liso, castanho claro. Vestia camiseta branca de uniforme. Sentada largadadamente no banco de trás de um carro grande e caro, distraia-se com suas unhas. O carro estava em uma cara avenida de São Paulo, parado no trânsito, no meio da tarde, horário em que alguns privilegiados têm a chance de rodar pelas ruas, atrás de seus compromissos fúteis e agradáveis. Outros rodam a trabalho, outros resolvem problemas, outros procuram emprego, ou vão à aula, outros encontram-se em situações desconfortáveis. E a menina olhava as unhas. Seu pensamento passeava e rodopiava dentro de sua mente. De repente levantou o braço direto. Esqueceu as unhas. Levou o nariz ao sovaco. Deu uma profunda cheirada. Depois de tudo checado, descansou o olhar na paisagem.

morar sozinha é...

dar risada alto e estanhar o próprio riso suspirar alto e estranhar o próprio suspiro gritar, rompendo o silêncio, e se assustar com o próprio grito sentir o cheiro da pipoca do vizinho e fazer uma panelada só para você (não vale de microondas) abrir uma garrafa de vinho inteira e tomar toda noite até que ele vire vinagre na geladeira usar este vinagre para temperar salada (bem, aí já é imaginação) ter sossego para imaginar cenas deprês como estas

vamos contar comigo?

Não tenho cara para criticar o trabalho dos jornalistas. Fazer reportagem não é fácil. É preciso tirar a bunda da cadeira e ir atrás da notícia, procurar as melhores fontes, lidar com gente mal humorada, grossa ou que nunca tem tempo. E além disso, sentir o desespero quando o prazo está acabando e a entrevista com a fonte principal ainda não deu certo. Diante de tanta pressão e esforço para sobreviver no emprego é possível entender porque aqueles mais fracos são capazes de atitudes tão baixas e tentam compensar a sua grande insegurança com comportamentos egocêntricos ou com uma competitividade excessiva. Mas não é sobre isso que queria falar. Lembro-me de um texto que fiz há alguns anos quando era ainda uma estudante de jornalismo. Uma entrevista com o dono de um bistrô pouco conhecido localizado ao lado de uma conceituada pizzaria de Florianópolis. Praticamente todo o movimento de carros e pessoas no local se dirigia à pizzaria. Portanto, coloquei na matéria o seguinte título: “M

e se falassem tudo o que pensassem?

Ela viu a outra segurando a sacola da Betty Boop e não conseguiu mais tirar os olhos. Ela gostava da Betty, parecia com a personagem quando era criança; não pela sexualidade, mas sim porque era magrinha e tinha um cabeção. A outra perguntava-se: “Por que esta menina me olha tanto? Estou ficando incomodada”. E ela pensava: “Nossa, a moça deve estar estranhando eu olhá-la tanto assim. Mas que droga! Não estou olhando para ela, mas para a sacola. Onde será que arranjou?” Quando a outra mirava o olhar para a sua direção, ela virava a cabeça para disfarçar. Continuaram nesta situação desconfortável até o ônibus chegar. Imagino como seria se tivessem falado uma para a outra os seus pensamentos. Acho que teriam esclarecido tudo e saído aliviadas. Mas não se conheciam e não tinham o hábito de falar o que dá na telha para desconhecidos. Além disso, são apenas detalhes de uma breve passagem do cotidiano. Agora deixemos nossas personagens em paz, pois em alguns segundos esquecerão este incômodo,

o corvo na cidade

Estes dias admirei um documentário transmitido pela TV Cultura. Era um tipo de matéria que gostaria de ter feito se trabalhasse neste ramo. Mostrava como os animais silvestres se adaptam à vida das grandes cidades e usam o tráfego e os códigos urbanos a seu favor. O primeiro exemplo foi de um corvo que tinha uma noz no bico. Como fazer para quebrá-la? Era muito dura. Por isso, ele deixou a noz no meio da avenida e do fio de energia ficou observando-a. Os carros, em alta velocidade, passaram por cima da noz e quebraram-na. Então, o corvo desceu para pegá-la, mas percebeu que corria perigo no meio do trânsito intenso. Voltou, então, ao seu fio e esperou o sinal fechar. Agora, sim! O pássaro pôde comer tranqüilamente no meio da avenida.

duas passantes e um passante

Por que observo tantas coisas do ônibus? É claro! Não tenho a preocupação de dirigir, portanto, posso ficar com a cara encostada na janela olhando calmamente o que se passa lá fora. Nesta semana, duas passantes me chamaram a atenção. Talvez porque ambas estivessem de calça e sapatos pretos, diferenciando-se entre si apenas pela cor das blusas e dos cabelos: a loira vestia blusa laranja e a morena, azul. Além do mais, a calçada estava vazia e as duas passeavam de braços dados. Não pareciam lésbicas e sim, amigas queridas. Eis que um homem vem em direção às duas; passa por elas e as olha. Assim que elas ficam para trás, ele dá mais uns dois passos e vira a cabeça para trás, mirando sem hesitar na bunda das moças. Distraídas, provavelmente elas nem imaginam que as suas traseiras estavam sendo examinadas. Já vi este tipo de cena várias vezes, em diferentes cidades, geralmente do ônibus. Parece ser mais forte que eles. É como se ao ver a frente de uma mulher interessante, um ímã puxasse a

bebê seguro de si

Em seu carrinho confortável, escuro, estava protegido de quase toda a agitação do metrô. Assistia a tudo, como se estivesse em uma redoma, àquelas pessoas grandes, sentadas ou em pé com a aparência cansada, apática. Mas desprezava os sentimentos alheios, apenas olhava. Na verdade, estava mais entretido com seus pezinhos, os quais ele insistia em manter para o alto, apoiados na mesinha de refeições do carrinho. O fato de ser muitas vezes menor do que os outros ao redor não o intimidava. Estava seguro e tranqüilo na sua posição de bebê, curtindo sossegadamente o seu nada a fazer, assessorado por seus pais, sempre ao seu dispor. Mirei em um de seus olhinhos, brilhantes. Quis chamar a sua atenção, como fazemos geralmente com os bebês. Acho que me olhou durante algum tempo, mas sem nenhuma surpresa, sem nenhum sorriso. Com suas calças verde-água de algodão macio e um paninho fresquinho e branquinho deixado suavemente em cima de sua barriga, era como se estivesse há uns 30 anos no mundo. Car

nas calçadas

Ele dorme na calçada. Sempre está na calçada, às vezes está do outro lado da rua. Em alguns dias, fala alto, afobado, palavras sem sentido, ininteligíveis; em alguns dias, está em silêncio ou dormindo; dia desses cantou um trecho de um pagode de dez anos atrás. Foi a primeira e única vez que entendi suas palavras. Brinca com latinhas e água de sarjeta. Lava o rosto e as mãos com água da sarjeta. Nunca o vi com uma roupa diferente da sua calça preta e blusa preta. Será que são pretas mesmo? Será que são únicas ou várias idênticas? Há poucos dias, descobri que à noite fica na rua ao lado. Uma vez, com um copo na mão, outra conversando com outro cara (a primeira vez que o vi conversando) em frente à Lanchonete Angolana.

anúncios irritantes

Estes dias, do ônibus, vi um anúncio bem grande no alto de um edifício - “VISA / Porque a vida é agora” - e percebi algo: como odeio estes tipos de anúncio. Lembrei de outro que era obrigada a ler em Florianópolis toda vez que ia ao centro da cidade: “Porque escola é Solução”. Dentre os detestáveis também estão os do tipo: “É gripe? Benegripe” ou “Cabelos Brancos? Não os tenha. Loção Nova”. Caramba! Além de eu não ter perguntado nada, eles me socam a resposta! Goela adentro! Vou vomitar.

rio

As crianças de São Paulo convivem, desde cedo, com um rio que fede. Para elas, isto deve ser natural. Passam pelo rio com grande indiferença, ignorando seu cheiro, sua cor e o fato de que ele já foi limpo e cristalino um dia. Já passaram por ele muitas vezes e sabem que vão passar no dia seguinte. Estranhamento diário é besteira, além do mais, quando elas nasceram, ele já era assim. Observo agora umas crianças de uma pequena cidade do interior dentro de um carro, chegando na capital a passeio. É uma tarde quente e ensolarada e os vidros estão abertos. Sabem que vão contornar o famoso rio que fede e isso causa grande alvoroço no veículo. O rio é um grande ponto turístico e, para enaltecê-lo, elas não fazem por menos: com gestos exagerados fecham os vidros rapidamente, tapam os narizes, prendem a respiração e simulam uma sensação de sufoco. Agitadas e com olhares deslumbrados dizem: “Eca!”

caríssimos leitores, obrigada

Leitor(a), gosto de você. Não te conheço, mas você me lê. E este é um forte motivo para eu gostar de você. Por sua causa, este blog não é uma ilha com apenas um habitante. E olha que por muito tempo eu pensei que era. Mas eu descobri que você me lê e por isso eu fico feliz.

para quem leu as janelas e seus donos

Hoje, quando acordei, olhei distraidamente pela janela do quarto e ... "o que vejo na janela em frente?" A lata de Nescau sumiu, e em seu lugar apareceu uma lata de cerveja! (ainda não consegui identificar a marca). Deve estar cheia, como a minha de molho de tomate, pois uma lata vazia dificilmente agüentaria o peso da janela. Mas o que é isso? Uma competição. Agora, terei que aparecer amanhã com uma lata de óleo de soja? Quem sabe uma lata de aspargos ou de corações de alcachofra?

"dolly, dolly guaraná, dolly...

...Dolly guaraná... (vai baixando o volume) o sabor brasileiro (pianíssimo)" Não é difícil decorar o jingle que agora passa no intervalo comercial da TV Cultura. E a versão Páscoa que deram à propaganda é tenebrosa. Em uma imitação pífia dos bichinhos Parmalat, a música é cantada por um grupo de crianças que deveriam parecer coelhos, mas devido à maquiagem mal feita, parecem mais monstrinhos da floresta. É uma pena, pois elas devem ser bonitinhas. Mas monstrificaram as crianças.

ninguém está livre do erro

Justo hoje que ia falar de uma bola fora do Paulo Henrique Amorim, percebi que cometi um erro em um dos meus posts. Bem, mas como todos erram, vou lembrar mesmo assim da gafe do Amorim, que por sinal tem muito em comum com a minha. Em seu programa da tarde, uma repórter dava as últimas notícias do caso da família envenenada em Campinas. A polícia acabara de encontrar o diário da menina sobrevivente. O programa mostrava as imagens das páginas mais reveladoras, e uma delas tinha uma grande foto. "Amorim então explicou: aqui está uma foto da menina". Só que qualquer telespectador poderia perceber que a foto, que ocupava a página inteira do diário, era da não pouco conhecida cantora Sandy. A repórter tentou consertar: "é uma ídola da menina", mas a matéria continuou.

falha

Estou envergonhada. Disse ontem que os versos citados no post versinhos emprestados eram do Wando. Mas hoje uma dúvida veio me cutucar e resolvi pesquisar. Desculpem-me, eles são de um cantor chamado Agepê. Farei as correções imdediatamente.

junta de ídolos

Dias atrás vi na Paulista, sob pleno sol escaldante, uma fila enorme. Tive que andar muito para descobrir onde era o começo e o fim. Ela dobrava a Augusta e se concentrava na saída de um estacionamento. Ao redor da fila, vendedores ambulantes vendiam fitas coloridas para amarrar na cabeça com os mais diversos nomes, como Rouge, Zezé de Camargo e Luciano, Daniel etc. Perguntei a umas meninas: “pra que é a fila?” Responderam impacientes, como se eu fosse a única que não soubesse: “pra rádio”. Não entendi. Lembrei que fãs se reúnem em frente de hotéis para esperar seus ídolos. Insisti: “no hotel?” Acho que ficaram nervosas por eu perguntar o que para elas era o óbvio. Resolvi tentar com outra pessoa. Pensei: “será que é emprego para rádio? Será que tem tanta gente querendo trabalhar na rádio?” Mas logo vi crianças e bebês e imaginei que o motivo da aglomeração era outro. Uma mulher, então, deu-me uma resposta mais completa: naquele momento havia vários artistas de TV reunidos na rádio. Nã

versinhos emprestados

Certo dia ouvi em um programa humorístico de rádio um momento de poesia: os integrantes colocaram uma música brega e começaram a recitar versinhos. Um deles me chamou a atenção e me fez realmente considerar um possível talento dos rapazes para o humor: “Quero te pegar no colo te deitar no solo e te fazer mulher” “Hahaha, deitar no solo é boa! Para rimar com colo! Hahaha, muito bom!”, ri e pensei. Mas que ignorância a minha! Dias depois, ouvindo uma outra emissora, descobri que o trecho fazia parte de uma música de um cantor chamado Agepê.

felino no parque

Em uma manhã, no parque Trianon, dois senhores conversavam sentados em um banco. Entretidos no bate-papo ignoravam o banco em frente. A surpresa inicial já passara, provavelmente. O banco da frente chamava a atenção de quem passava. Nele, estava dormindo um homem, meio magro e não muito grande. Ele estava vestido com um macacão colante, com estampa de oncinha muito real, que cobria os braços e as pernas. Na cabeça, uma tiara dourada, bonita, como de princesa. Entre as sombras das árvores, o frescor da manhã e o vasto verde do parque, o homem parecia um felino descansando em seu habitat natural.

sapato na encruzilhada

Em uma longa viagem, de Florianópolis ao estado de São Paulo, o ônibus chegava à cidade de Curitiba. Na estrada, sinais de civilização, como algumas casas de periferia e estabelecimentos, ainda se misturavam com a paisagem natural da mata. Da janela, avistei um sapato vermelho de salto alto em uma encruzilhada. Este episódio aconteceu há anos, mas até hoje fico imaginando como este pé de sapato feminino foi parar ali. Será que estava lá há muito tempo, ou tinha chegado lá na noite anterior ou naquela manhã mesmo? Foi arremessado, esquecido ou abandonando propositalmente? Quem foi sua dona, ou dono? Estava quebrado? Tantos podem ser os motivos, mas eu não sei qual é o verdadeiro, apenas posso imaginá-los e ficar com a poesia da cena e dividi-la com você. Isto me dá um consolo.

as janelas e seus donos

As janelas dos dois prédios se olham, seriam idênticas, se não fosse a peculiaridade de seus donos. A minha é antiga, dividida em duas partes pesadas que correm para cima e para baixo. Quando me mudei, quebrei o vidro, pois uma das partes emperrou e depois desceu com tudo até o parapeito. Ela oferece duas opções: ou está aberta, com uma "fresta" de quase um metro, ou está totalmente fechada. Os moradores inventam os mais variados acessórios para conseguirem um meio termo. Os objetos mais sofisticados são uns triângulos de madeira que seguram uma das vidraças e possibilitam que a "fresta" seja realmente uma fresta, cumprindo o seu objetivo que é apenas ventilar a casa. O velho que escreve com uma máquina de escrever, lá de baixo, usa listas telefônicas. Tem um apartamento que usa ripas de madeira, amarradas por uma cordinha. Gostei da idéia de um dos meus vizinhos que colocou um rolo de fita isolante para segurar a vidraça. Procurei algo em casa que poderia fazer o

merchandising

À noite, estou novamente no metrô indo para a casa de uma amiga. Em uma estação, sentam-se perto de mim duas senhoras. Uma delas é bem velhinha e pequenina. Seus pés nem conseguem apoiar-se no chão. (Lembro-me agora daquelas fotos de quando eu era criança. Eu sentada no sofá da minha casa da vó e meus pés completamente no ar, não dava nem para dobrar o joelho.) A senhora me chama a atenção, não consigo parar de olhá-la, talvez porque seja muito idosa. Tento distrair o meu olhar com outras coisas e quando volto a observá-la, percebo algo em seu peito que não havia notado antes. Será que ela colocou de propósito ou a bolsa estava escondendo? Era um broche enorme, redondo, escrito: “Aparência mais jovem, pergunte-me como”.

programa de jóias 2

Os programas de jóias também vendem relógios. Enquanto ninguém os compra, observo os ponteiros dourados dos segundos darem suas voltas tran-qui-la-men-te e cosn-tan-te-men-te no relógio apoiado no pulso da mulher da face misteriosa. O programa, apresentado em avançadas horas da noite, seria um excelente sonífero, se não me desse a idéia de escrever este post e me fazer levantar da cama para pegar uma caneta e um bloquinho.

do metrô

Fico imaginando essas gincanas que aparecem em programas de TV. Penso que os paulistanos seriam os melhores em uma das modalidades –a dança da cadeira. Eles a praticam diariamente, como posso observar agora na estação Barra Funda em mais um fim de expediente. Quando as portas se abrem, a multidão se espreme e se atropela igual boiada quando é tocada pelos peões para entrar no curral. A agilidade dos paulistanos, para no meio da confusão, encontrar um lugar vazio é espantosa. Fico feliz quando consigo encontrar um lugar e estar entre os campeões da brincadeira. Mas esta é uma técnica aperfeiçoada com os anos de experiência. Alguns passos para se aprimorar na dança da cadeira dos metrôs O campeão da dança da cadeira de um dos níveis mais avançados (estação lotada em horário de pico) não pode entrar no primeiro trem que passa. Ele deve deixar os outros passageiros entrarem para ser o primeiro da fila para o próximo trem. Depois disso, deve fazer a seguinte pergunta: “a porta que se abrir

post místico que poderia ter escrito no dia 9 de fevereiro se meu monitor não tivesse pifado

Vejo na TV dragões dançando no meio da multidão. Hoje começa o ano novo chinês. E os repórteres avisam: este é o ano do galo. Meu signo no horóscopo chinês é galo. Tenho algo para comemorar. Sim, hoje recebi a notícia de que passei no vestibular da USP: Letras - noturno. Talvez seja coincidência ou um sinal para eu escolher chinês como língua estrangeira.

vê o que se quer

Na entrada da empresa, encontrei o João, que ainda não sabia que eu não trabalhava mais lá. Estava chovendo. Eu estava com uma blusa vermelha que talvez combinasse com o meu guarda-chuva bordô. E ele disse: “Nossa, como você está irradiante!” Lá dentro, os que já sabiam da notícia me olhavam em silêncio. Fico imaginando o que pensavam ao me ver: “Olha só a cara dela, que tristinha”. É incrível como as pessoas vêem o que querem ver.

arquivo-morto

Na minha última semana de trabalho fui até o arquivo-morto da empresa procurar um documento que havia sido perdido. É um lugar esquecido, talvez poucos funcionários o conheçam. Para chegar lá, é preciso passar por um corredor com várias portas, que geralmente está com todas as luzes apagadas. Então se sobe uma escada de madeira improvisada, sem corrimão, e chega-se no teto do prédio. Lá de cima há uma bela vista da gráfica, das máquinas funcionando, das pilhas de livros e dos funcionários, que nem sequer imaginam que você está lá em cima. Fiquei parte da tarde naquele lugar meio escuro, empoeirado, junto a lâmpadas quebradas e caixas de vários departamentos. Eu e o silêncio. Às vezes cantava, revirando aquelas pilhas de documentos esquecidos. Ninguém lembrava deles, que um dia foram descartados, ninguém lembrava do arquivo-morto que os abrigava, naquele momento ninguém devia lembrar de mim, misturada à poeira e às caixas velhas. E eu já estava mais próxima do arquivo-morto do que del

currículo paulistano

No ano passado cheguei em São Paulo dois dias depois do aniversário da cidade. Peguei apenas os resquícios da festa dos 450 anos. Foi este, então, o primeiro aniversário de São Paulo que acompanhei de perto, e bem de perto por sinal, pois moro a duas ruas da Avenida Paulista, onde acontece uma grande festa. Saí de casa e vi apenas uma pequena alteração no movimento da região. Algumas barracas de cachorro-quente instaladas nas esquinas, pessoas chegando para o evento e a rota de ônibus desviada: todos passando em frente à minha casa. O céu cinza, nublado. Entrei no Center 3: movimento normal. “Ué? Cadê a muvuca, a multidão, a confusão, que nem eu vejo na TV? Já sei: quando chegar na Paulista, vou levar um susto, não vai dar nem para andar!” Fui pela Augusta e quando vi a Paulista: deserta! Percebi que o show era mais distante, lá pela altura do Trianon-Masp. (Que coincidência: no momento em que escrevo toca Adoniram – “Arnesto nos convidou”, Iracema e As mariposa) E não dava para

novo quadro

estou criando um novo quadro para o meu blog. Não sei ainda se vai rolar. É o "eu tive coragem" e "eu não tive coragem". Pelo menos uma participação ele já tem. É esta: "Eu não tive coragem de comer Yakisoba de rua"