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Mostrando postagens de 2009

cigarra urbana

Então a formiga disse: "Cantou? Então agora dance!" E foi exatamente isso que eu fiz. Depois de quatro anos e meio cantando em um grupo de coral regularmente, resolvi entrar na dança também. Dança clássica, que é para eu me sentir um pouco da bailarina que sonhava em ser quando criança. Hoje saí da aula realizada, me sentindo feliz. "Não precisa de mais nada". Todas as lamúrias chatas foram embora. Afinal, pensei, eu canto e danço. Sou uma cigarra de São Paulo. Uma cigarra urbana. Porém, formigas, tratem de saber que as cigarras se modernizaram, mudaram com o tempo. E assim eu sou uma cigarra trabalhadeira. Acordo cedo, passo oito horas no emprego de segunda a sexta, estudo à noite e mantenho a casa em ordem. Temos mesmo que cantar e dançar. Porque virar uma formiga rabujenta, ninguém merece.

reencontrei minha identidade

Antes que eu perguntasse qualquer coisa para o moço do guichê, bati meus olhos no vidro que nos separava e falei de alegria: "Minha identidade!". Lá estava ela, esse tempo todo, a mostra na bilheteria do cinema. Ele me pediu documento para comprovar e eu tive meu RG de volta. Fiquei feliz por não ter pedido uma manha inteira de sábado em um poupa-tempo. Já tinha ligado para o "achados e perdidos" do shopping e não sabiam dela. Lembro que perguntei se havia possibilidade de estar na bilheteria e me falaram com pouco ânimo que talvez. Acho que me deixei contagiar por esta falta de esperança, o que explica o fato de só quase 20 dias depois eu ter tomado a iniciativa de verificar se o documento estava com o pessoal do cinema. Isto que a bilheteria fica a um quarteirão de minha casa e está dentro do meu percurso de todos os dias. Estava tão tomada com algumas tristezas nos últimos tempos que não tive muito ânimo de procurá-la. Mas ela ficou lá quietinha, a minha espera.

uma mulher se maquiando

Uma mulher se maquiando chama a minha atenção. Gosto de ver como as cores e os traços modificam seu rosto. Apesar de a etiqueta dizer que não se deve maquiar em público, não deixo de encontrar mulheres que se maquiam diariamente em ônibus e no metrô. Mesmo com o balançar do transporte público, com as freadas bruscas, não se avexam e lascam da bolsa o lápis preto. Em um momento de pura concentração e dedicação, e também de certo perigo, fazem os traços de acordo com sua personalidade: finos ou largos, suaves ou marcantes, curtos ou longos, camuflados ou evidentes. Às vezes se quer um efeito sombreado, outras um traço preciso. O agito do veículo some nesse momento compenetrado. Tudo para. E eu mergulho nesse instante, com seriedade, acompanhando cada passo, esperando visualizar com sucesso o antes e depois, como naqueles programas de TV. Observo que o estojo de pó está pela metade e penso: “Essa deve se maquiar todo dia para ir ao trabalho”. Ou sinto uma leve frustração quando vejo que o

diálogo

Sinto que as almas estão presas. Vejo nas ruas almas apertadas, outras debatendo-se, outras sufocadas. As pessoas andam curvadas, andam ansiosas, desanimadas, mas não sabem onde estão sua alma, sequer pensam que têm alguma. Suas mentes a aprisionam. Suas mentes dão espaço demais pro julgamento alheio, para o objetivo de ser um vencedor dentro dos parâmetros criados por outras pessoas que também estão preocupadas com o julgamento alheio. Nossa mente cria muitos medos, cria muitas regras e se mune para não sofrer de novo as desilusões do passado. Porém, às vezes a munição pode ser pesada demais. “Você se lembra? Você me dizia que aos 17 anos gostava de andar pulando pela Avenida Paulista, só para ver a cara de desdém daquelas gravatas, daqueles saltos altos. Hoje, se alguém passa assim por você, talvez você ignore também, ou então dê um sorriso sutil, nostálgico. Parece que os grandes sonhos povoavam com mais facilidade a nossa mente. E hoje a gente tem o hábito de dizer logo depois de c