Uma mulher se maquiando chama a minha atenção. Gosto de ver como as cores e os traços modificam seu rosto. Apesar de a etiqueta dizer que não se deve maquiar em público, não deixo de encontrar mulheres que se maquiam diariamente em ônibus e no metrô. Mesmo com o balançar do transporte público, com as freadas bruscas, não se avexam e lascam da bolsa o lápis preto. Em um momento de pura concentração e dedicação, e também de certo perigo, fazem os traços de acordo com sua personalidade: finos ou largos, suaves ou marcantes, curtos ou longos, camuflados ou evidentes. Às vezes se quer um efeito sombreado, outras um traço preciso. O agito do veículo some nesse momento compenetrado. Tudo para. E eu mergulho nesse instante, com seriedade, acompanhando cada passo, esperando visualizar com sucesso o antes e depois, como naqueles programas de TV. Observo que o estojo de pó está pela metade e penso: “Essa deve se maquiar todo dia para ir ao trabalho”. Ou sinto uma leve frustração quando vejo que o...