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diálogo

Sinto que as almas estão presas. Vejo nas ruas almas apertadas, outras debatendo-se, outras sufocadas. As pessoas andam curvadas, andam ansiosas, desanimadas, mas não sabem onde estão sua alma, sequer pensam que têm alguma. Suas mentes a aprisionam. Suas mentes dão espaço demais pro julgamento alheio, para o objetivo de ser um vencedor dentro dos parâmetros criados por outras pessoas que também estão preocupadas com o julgamento alheio. Nossa mente cria muitos medos, cria muitas regras e se mune para não sofrer de novo as desilusões do passado. Porém, às vezes a munição pode ser pesada demais.

“Você se lembra? Você me dizia que aos 17 anos gostava de andar pulando pela Avenida Paulista, só para ver a cara de desdém daquelas gravatas, daqueles saltos altos. Hoje, se alguém passa assim por você, talvez você ignore também, ou então dê um sorriso sutil, nostálgico. Parece que os grandes sonhos povoavam com mais facilidade a nossa mente. E hoje a gente tem o hábito de dizer logo depois de confessar algum plano: É... a situação não está fácil. Nada está fácil".

A gente tenta se encaixar em um lugarzinho, mas a nossa alma não se encaixa. Ela não gosta de se encaixar. Ela gosta de ser livre, de voar, de sentir o vento. Também gosta de um aconchego, mas um aconchego do jeito dela e não daquilo que dizem pra gente que é aconchego. A gente pode até fingir que acredita, mas ela não.

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