Pular para o conteúdo principal

botinhas brancas

Agora, voltando do trabalho, vi botas brancas em uma vitrine de uma loja da Paulista. Lembrei então de ontem à noite, às 3 h da manhã, quando eu e mais três colegas de trabalho voltávamos de uma festa. Um deles fez um comentário crítico a respeito das botas brancas de uma outra colega que estava na festa. Realmente, as botas dela também não passaram batidas para mim. Em um momento da noite, elas convidaram meus olhos brevemente.
Mas no carro, comentei: "Tirando todo o preconceito do mundo uma bota branca é apenas uma bota. E branca". Ele deve ter concordado, pois disse: "Boa, Lúcia"
Hoje, lembrando desta passagem, pensei: "Nunca tive vontade de usar botas brancas. Nem são bonitas. São feias." Mas meu pensamento, que se remetera à minha infância, sem me avisar, fez-me discordar de mim mesma.
Aos cinco anos, eu tive uma bota branca. Era de plástico e da Xuxa. Minha mãe, é lógico comprou contra a sua vontade.
Acho que nem eu, nem ela, nem ninguém sabe como ela teve coragem de comprar aquilo. Mas eu era apaixonada pela bota. Lembro que era dificílimo colocá-la. Ela era fechada apenas na parte do pé e de cada lado saiam duas fitas de plástico enormes que tinham de ser trançadas pelo tornozelo até ficarem parecidas com o cano da bota. Para finalizar, amarrava-se as fitas com lacinhos. Que meigo. Lembro dos meus pais e dos meus avós aos meus pés, quebrando as cabeças para entenderem o desenho do manual que explicava como transpassar as fitas. Acho que não chegaram a entender. Amarravam do jeito que bem entendiam. E eu saia feliz, talvez com um pé atrás, pois sabia que a amarração dos adultos não era a ideal. De qualquer forma, já dava para me sentir um pouco Xuxa ou um pouco paquita.
E agora pouco, andando pela Paulista, pensei: "Que bom que minha mãe, sempre tão crítica, rendeu-se daquela vez à minha vontade. Pois imagino que seja por isso que hoje não tenho vontade de usar botas brancas. Eu pude ser brega na infância. A criança brega não é tão discriminada quanto o adulto brega".

É mais difícil ser um brega sério. Geralmente estas pessoas querem deixar claro que estão divertindo-se sendo brega: "Olha, eu estou brega por pura escolha. Não sou brega".



eu, em uma das minhas festas de aniversário, com minhas botas brancas e uma das armas femininas com que eu adorava brincar:neste caso era um secador de cabelo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crenças

Em um dia qualquer de trabalho, um colega que sentava ao meu lado chegou de manhã com um livro velho nas mãos. Me mostrou e perguntou se eu queria, pois ele já tinha uma edição daquele título. Havia encontrado no térreo da empresa, em uma prateleira em que os funcionários costumavam deixar livros que não queriam mais. Era No caminho de Swann, de Proust. Aceitei, já que não tinha o livro, mas um pouco descrente de que leria logo, pois andava na correria. Ao abri-lo, tive uma surpresa. Na folha de rosto, estava escrito à caneta provavelmente o nome de sua primeira dona, Rita, acompanhado de uma data: 06/06/81. Exatamente o dia em que nasci. Até prefiro ler livros mais novos, mas, depois dessa coincidência, topei em começar a ler este exemplar de páginas amareladas, manchadas e cheirando a velho. Ainda não terminei a leitura. Fiz paradas e retomadas. Em alguns momentos de extensa descrição, cheguei a me perguntar se deveria mesmo seguir, mas o meu encanto com a fineza de pensamento e d...

ao senso comum

Enquanto o ônibus estava parado no semáforo vermelho, o motorista aproveitou para sair do ônibus rapidamente. Voltou com um copo de café para o cobrador. Lembrei que uma amiga minha já havia contado: eles tinham o costume de descer naquele ponto para buscar água no posto de gasolina. O cobrador perguntou: "Está bom?". E o motorista respondeu, sorrindo: "Não sei, não experimentei antes para saber!". Bem humorado voltou ao volante e o cobrador começou a tomar o seu café, em um copo descartável. "Mas está bom", continuou o cobrador com o diálogo. "É, está melhor que antes", completou. O motorista voltou-se para trás, entendendo. "É, antes eram eles que faziam. Agora são umas mulheres que estão fazendo". "É, está bem melhor", disse o cobrador. Olhei pela janela e observei o posto de gasolina: duas ou três mulheres frentistas. Nenhum homem no local. "Será que foram todos substituídos por mulheres?", pensei. E o motorista...

alemão

O dia em que o encontrei considerei um dia de sorte. Estava cansada dos pedreiros enrolados e picaretas que costumavam prestar serviço no meu prédio. Mas, mesmo com poucas esperanças, fui perguntar ao porteiro se ele conhecia alguém que poderia pregar umas prateleiras e um varal, além de fazer outros servicinhos pendentes no meu apartamento. Foi quando ele apareceu. E logo o porteiro falou: "Acho que o Alemão pode". E voltando-se para ele: "Não pode, Alemão?" Alemão era diferente dos outros. Forte, largo, galego, parecia ter 1,70 de altura x 1,70 de largura. Careca, fazia-me lembrar do tio Fester da família Addams, porém, tinha uma generosidade em seu falar. Combinamos um dia para ele apaecer em casa. No dia marcado, Alemão atrasou. Os porteiros me informaram em qual apartamento ele fazia a reforma. Fui até lá. Com um moço, seu ajudante, ele trocava o piso de um apartamento vazio. Fazia o trabalho descalço, acentando aqueles grandes pisos de cerâmica no chão. S...