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apito

Com esta mudança da empresa, sinto-me cada vez mais uma operária. Como trabalho uma hora a menos do que a maioria dos meus colegas, saio junto com o pessoal da gráfica. Pego o ônibus fretado, no qual tem uma média de 40 homens para 3 mulheres, diferente da turma da vinda, predominantemente feminina e jovem. Na ida, toca algo como Kid Abelha e Djavan. Na volta ouço música sertaneja e gracinhas masculinas. Tem um cara que insiste todo dia em abrir a janela e sempre tem um desavisado atrás que vai tomando vento e passando frio até todos reclamarem para que se feche o vidro. Este pessoal chega às 7h da manhã na empresa e acorda lá pelas 5h ou muito antes.
Eu não acordo tão cedo assim, mas bato ponto, pego ônibus fretado e trabalho ao lado de indústrias como Bunge Alimentos e Roche, e às 17h, quando saio para pegar a condução, ouço um apito na gráfica e observo os funcionários se encaminharem para o vestiário. Então, sozinha, esperando-os chegar, lembro daquela música:

"Quando o apito da fábrica de tecidos
vem ferir os meus ouvidos
eu me lembro de você"
(...)

"Você é mesmo artigo que não se imita
quando a fábrica apita
faz reclame de você"
(...)

"Mas acontece que enquanto você faz pano
faço junto do piano
estes versos pra você"

Bem, não é uma fábrica de panos, e sim de livros, e não deve ter ninguém no piano fazendo versos para mim. Talvez no máximo alguém no violão, quem sabe chamado Noel, mas que usa versos de outros, que pode até ser do Noel Rosa e que pode até ser esta música.

*música citada: Três Apitos (Noel Rosa)

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