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os miseráveis

Domingo peguei um ônibus na Consolação em direção ao centro. Umas amigas me esperavam para uma peça de teatro gratuita em um teatro perto da Igreja da Consolação. Entrei no ônibus e só havia lugares no fundo. Na verdade, o fundo estaria quase vazio, se não fosse três adolescentes e um bebê. Um deles, quieto, estava só na última fileira e na frente dele, dois, sentados um ao lado do outro, conversavam. Uma menina e um menino que segurava o bebê. Reparei que o moço estava com os pés sujos e descalços. Sentei-me ao lado deles e pude ouvir trechos da conversa.
Ela dizia: – Sim, minha filha ficava numa creche perto daquela favela.
Mas você saiu daquela, foi para onde?
– Minha mãe quis. [...] tava caindo...
– Longe, né? Mas lá onde eu tô é tudo predinho. Agora é tudo predinho. Só que lá é bem nojento. Agora tá melhor. Prenderam o nojentão que mandava lá.
De repente lembrei do nome da peça que iria ver: Os miseráveis.
Não pude mais ouvir a conversa, pois avistei a Igreja, levantei-me e andei em direção à porta. O ônibus parou e eu deixei o Jaçanã. Afinal, eu tinha que ver Os miseráveis.

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