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a lebre e a tartaruga

Com o sono que acordei hoje, qualquer sapato que pensava em colocar soava como um esforço a mais na minha jornada. Depois de muita relutância, pois teria de romper com o estilo habitual do meu trabalho, resolvi colocar um tênis. Andando ligeira pela Augusta, pois a dificuldade de acordar e a indecisão pelo calçado me atrasaram, de repente me deparei com obstáculos no caminho. Além das pessoas que esperavam o ônibus na calçada, um casal contribuía para tomar todo o espaço restante. Tive que seguir atrás deles, porém percebi que o ritmo dos dois estava muito lento. Olhei para baixo e vi parte do salto da moça, de tamanho exagerado. Era tão alto que dava espaço até para enfeitinhos. Era preto com bolinhas brancas. E com esforço quase sobre-humano a moça tentava se deslocar sobre eles por essas calçadas revoltantemente estragadas da região da paulista. (Se na Paulista já é assim, imagine em outras regiões da cidade). Solidarizando-se com ela, o namorado a ajudava, como alguém ajuda uma velhinha de mais de 80 anos a andar pelas ruas.

A calça da moça também não parecia contribuir. Em estilo social, era mais justa que uma legging de academia, evidenciando o traseiro avantajado. Não entendo como algo com a intenção de ser social é usado de forma que pareça vulgar. Não sou contra saltos nem roupas justas, mas há momentos em que é bom refletir. Se um salto, que tem a intenção de transmitir elegância, a deixa andando como uma pata, qual a sua utilidade?

Em contraste com a cena que presenciei de manhã, o que vemos hoje com facilidade são idosas nas ruas com roupas e tênis confortáveis, que lhes dão agilidade nos passos. Como lebres, ultrapassam as moças jovens de saltos escandalosamente altos, que andam a passos de tartaruga. Esse mundo está invertido ou não está?

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