Ricardo tinha que encontrá-la. Ela tinha dado um sinal de que tudo poderia voltar, de que tudo poderia ser como antes. Ela não saía de sua mente e enquanto não a visse, não ficaria em paz. Resolveu fazer uma surpresa: iria esperá-la na saída da aula. Era uma tarde quente e abafada quando ele saiu de casa. Pegou um metrô e dois ônibus lotados e conseguiu chegar antes de a aula acabar. O céu escurecia e as nuvens ficavam carregadas. Começou a relampejar, a trovoar e uma forte chuva despencou de repente. Ensopado tentou abrigar-se debaixo de uma cobertura. O barulho da chuva era tanto que mal dava para ouvir o barulho da sirene que avisava o término da aula. Os alunos começaram a sair, um tumulto de carros, pessoas, guarda-chuvas formou-se em frente ao portão. Alguns saiam correndo com as pastas sobre as cabeças, com a tentativa de molhar-se menos. Os sapatos e as barras das calças ensopavam-se nas poças e enxurradas. Eis que o rosto dela surge no meio da confusão. Ela vai se desvencilhando tranqüilamente do amontoado de pessoas. Uma mão apoiada em seu ombro. Então Ricardo viu que ela não estava só. Um rapaz a acompanhava. Tentou se esconder, não poderia ser visto naquele estado. Seria muito constrangedor. Porém, logo o casal se separou. O rapaz saiu correndo no meio da chuva e ela ficou, procurando-o aflita e inquieta. Até que ele apareceu novamente e ela entrou em seu carro, que partiu.
O dia em que o encontrei considerei um dia de sorte. Estava cansada dos pedreiros enrolados e picaretas que costumavam prestar serviço no meu prédio. Mas, mesmo com poucas esperanças, fui perguntar ao porteiro se ele conhecia alguém que poderia pregar umas prateleiras e um varal, além de fazer outros servicinhos pendentes no meu apartamento. Foi quando ele apareceu. E logo o porteiro falou: "Acho que o Alemão pode". E voltando-se para ele: "Não pode, Alemão?" Alemão era diferente dos outros. Forte, largo, galego, parecia ter 1,70 de altura x 1,70 de largura. Careca, fazia-me lembrar do tio Fester da família Addams, porém, tinha uma generosidade em seu falar. Combinamos um dia para ele apaecer em casa. No dia marcado, Alemão atrasou. Os porteiros me informaram em qual apartamento ele fazia a reforma. Fui até lá. Com um moço, seu ajudante, ele trocava o piso de um apartamento vazio. Fazia o trabalho descalço, acentando aqueles grandes pisos de cerâmica no chão. S
Comentários
A chuva não molha.
Millor.
Mas o que fazer com o gosto amargo
na boca, uma pressão no peito e uma
névoa nos olhos?
Beijão