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assinatura

Sinto se te incomodo, leitor, mas as lembranças de infância continuam povoando a minha mente, e não me deixam. E penso que talvez será assim durante a minha vida. Aliás, acredito que os momentos da nossa infância sempre irão nos cutucar de vez em quando. Mas você pode, quem sabe, encontrar algo interessante na passagem que contarei a seguir. De repente, vi-me com duas opções: ou escrevia esta lembrança ou não escrevia nada, pois não conseguia me empolgar com outro assunto. Depois de muito tempo com a dúvida, optei por escrever.

Brincava com a minha prima em um dos quartos vazios da casa de nossos avós. Eis que chegam nossos dois irmãos mais velhos, com folhas de papel e caneta na mão. Eles nos perguntaram se tínhamos uma assinatura. Nós, simples meninas de cinco anos, nem sabíamos direito o que era isso. Então, vimos naquele momento uma oportunidade de adquirir uma. A explicação era simples: “Faça um rabisco nesta folha, do jeito que vocês quiserem”. Mas havia uma ressalva: “quanto mais complicada for sua assinatura, mais difícil será de alguém imitá-la”.
Para mim, que desde pequena não gostava de ser imitada por ninguém, aquilo foi um estímulo e tanto. E minha mente foi invadida por desejos de grandiosidade! “Posso usar a folha inteira?” – perguntei. “À vontade” - respondeu o meu irmão.
Peguei a caneta com paixão e ansiedade. Rabisquei furiosamente a folha, fazendo todos os movimentos possíveis e imagináveis. Os traços iam para todas as direções, se cruzavam, se sobrepunham. O resultado final foi uma folha tomada por um gigantesco rabisco que quase não dava vez para os espaços em branco.
Satisfeitos, eles pegaram as nossas folhas. Depois de examiná-las, disseram: “Agora, vocês tem que fazer outra igual”. Uma grande frustração tomou conta de mim de repente, que logo foi substituída pela ira! Como eu poderia imitar aquele enorme rabisco? Quis que ninguém conseguisse imitá-lo, mas me dei conta que nem eu mesma podia! Senti-me enganada, traída! Minha assinatura tinha se perdido, tornara-se algo inatingível.
Não lembro direito como foi a assinatura da minha prima, provavelmente também não daria conta de refazê-la, mas lembro que ela se conformou. Eu, ao contrário, queria descontar a minha raiva nos dois, mesmo que fossem maiores e mais fortes do que eu. Gritei, esbravejei, mas sabia que nada faria mudar a assinatura. Eles haviam me instigado a criar uma armadilha e eu havia caído nela.


obs- hoje tenho outra assinatura.

Comentários

Unknown disse…
É, eu acabo criando nossas próprias armadilhas. Como, p. ex., ficar esperando a Lúcia comentar no meu blog! [=P]

Eu não sei se é uma fase, mas tu procede da mesma forma como eu com teu blog, posta quando vem alguma coisa. Ou não...

Quanto a noite, acho que é assim mesmo com quem mora sozinho.
Anônimo disse…
Oi Lúcia,

Fiquei rindo sozinho ao ler esse post. Praticamente pude ver a cena ou lembrei de modo meio vago.

Abraço,
JAP disse…
Os seus escritos são lidos por mais gente do que você imagina.
Gostei muito.

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