Pular para o conteúdo principal

do metrô

Fico imaginando essas gincanas que aparecem em programas de TV. Penso que os paulistanos seriam os melhores em uma das modalidades –a dança da cadeira. Eles a praticam diariamente, como posso observar agora na estação Barra Funda em mais um fim de expediente. Quando as portas se abrem, a multidão se espreme e se atropela igual boiada quando é tocada pelos peões para entrar no curral. A agilidade dos paulistanos, para no meio da confusão, encontrar um lugar vazio é espantosa. Fico feliz quando consigo encontrar um lugar e estar entre os campeões da brincadeira. Mas esta é uma técnica aperfeiçoada com os anos de experiência.

Alguns passos para se aprimorar na dança da cadeira dos metrôs

O campeão da dança da cadeira de um dos níveis mais avançados (estação lotada em horário de pico) não pode entrar no primeiro trem que passa. Ele deve deixar os outros passageiros entrarem para ser o primeiro da fila para o próximo trem. Depois disso, deve fazer a seguinte pergunta: “a porta que se abrirá dará para o meio do vagão ou para os cantos?” Se ele estiver na última porta do vagão, por exemplo, talvez compense voltar seu olhar rapidamente para a esquerda, pois tentará achar um lugar no canto, onde terá menos gente para competir com ele. Outra regra básica: o campeão deve distinguir com extrema agilidade as cadeiras laranjas das cinzas. Sentar em uma cadeira cinza pode ser mais fácil, mas pode colocar todo o seu trabalho por água abaixo: é muito provável que você tenha de abandoná-lo para dar lugar a um idoso, uma gestante ou um deficiente físico.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

alemão

O dia em que o encontrei considerei um dia de sorte. Estava cansada dos pedreiros enrolados e picaretas que costumavam prestar serviço no meu prédio. Mas, mesmo com poucas esperanças, fui perguntar ao porteiro se ele conhecia alguém que poderia pregar umas prateleiras e um varal, além de fazer outros servicinhos pendentes no meu apartamento. Foi quando ele apareceu. E logo o porteiro falou: "Acho que o Alemão pode". E voltando-se para ele: "Não pode, Alemão?" Alemão era diferente dos outros. Forte, largo, galego, parecia ter 1,70 de altura x 1,70 de largura. Careca, fazia-me lembrar do tio Fester da família Addams, porém, tinha uma generosidade em seu falar. Combinamos um dia para ele apaecer em casa. No dia marcado, Alemão atrasou. Os porteiros me informaram em qual apartamento ele fazia a reforma. Fui até lá. Com um moço, seu ajudante, ele trocava o piso de um apartamento vazio. Fazia o trabalho descalço, acentando aqueles grandes pisos de cerâmica no chão. S

caixas brancas

Quando minha tia voltou de uma viagem à Europa, em 90, trouxe, entre muitas coisas, uma boneca para a minha prima. Não era uma boneca qualquer. Era daquelas que considerávamos chiques e as quais tínhamos, então, de tratar com todo o cuidado possível. Praticamente não era uma boneca de brincar, e sim, de enfeitar. Se não me engano, era feita de material que quebrava, talvez porcelana. Tinha o vestido de tecidos nobres para uma boneca, cheio de delicadezas e rendas. O rosto era bem feitinho, com traços finos, o que considerávamos exemplo de uma beleza europeia. Não me lembro ao certo da sua cor de cabelo, nem da cor de seu vestido; talvez fosse amarelo. Mas não esqueço da caixa em que a boneca veio: mais ou menos do tamanho de uma caixa de sapatos, de papel duro e branca. Branca, branca, sem nada escrito, sem um número, uma palavra, um logotipo. Na minha experiência de criança, achei aquilo o máximo da sofisticação, se é que tal conceito já existia na minha cabeça. Era lindo. Uma bonec

ao senso comum

Enquanto o ônibus estava parado no semáforo vermelho, o motorista aproveitou para sair do ônibus rapidamente. Voltou com um copo de café para o cobrador. Lembrei que uma amiga minha já havia contado: eles tinham o costume de descer naquele ponto para buscar água no posto de gasolina. O cobrador perguntou: "Está bom?". E o motorista respondeu, sorrindo: "Não sei, não experimentei antes para saber!". Bem humorado voltou ao volante e o cobrador começou a tomar o seu café, em um copo descartável. "Mas está bom", continuou o cobrador com o diálogo. "É, está melhor que antes", completou. O motorista voltou-se para trás, entendendo. "É, antes eram eles que faziam. Agora são umas mulheres que estão fazendo". "É, está bem melhor", disse o cobrador. Olhei pela janela e observei o posto de gasolina: duas ou três mulheres frentistas. Nenhum homem no local. "Será que foram todos substituídos por mulheres?", pensei. E o motorista