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sim, peguei o buquê

A mulherada se reunia eufórica e a noiva já estava se preparando, de costas para elas. Disse à colega do meu lado: "Vamos lá". "Fujo disso", ela respondeu. "Da última vez, uma baixinha rasgou o meu vestido". Vi que o negócio podia ser violento mesmo. Depois de insistir em vão, resolvi: "Eu vou lá". Como ficar de fora de umas das brincadeiras femininas mais divertidas nos casamentos?
Fiquei no canto. Pensei: "não estou na direção da noiva, só pego se ela tacar bem torto!" O que seria bem improvável, na minha opinião. A noiva, de costas, levou com as duas mãos o buquê para o alto. Momentos de emoção. Gritaria histérica. Senti um leve arranhão da moça da frente no meu dedo, mas não adiantava mais: o buquê estava nas minhas mãos.
No dia seguinte: "Não acho que você vai casar agora...". Respondi: "Eu também não". E me lembraram de algo: "Mas segundo a tradição, quem pega o buquê é a próxima a casar". De repente, um susto. Havia me esquecido disso. Quando entrei no meio da mulherada, não queria ser a próxima a casar, apenas ter a gostosa sensação de posse daquele objeto tão cobiçado. Ah, e se um dia eu decidisse casar, já teria algo a meu favor: ter pego o buquê.
E agora? Não me agradava a idéia de ser a próxima. E pensei: "Caramba, se for assim, vou encalhar toda a mulherada da festa. Elas vão querer fazer uma fila para me socar!" Comentei isto com os amigos no dia seguinte e a minha colega, que não quisera participar da disputa do buquê, falou: "Viu, foi bom eu não ter entrado".

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