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junta de ídolos

Dias atrás vi na Paulista, sob pleno sol escaldante, uma fila enorme. Tive que andar muito para descobrir onde era o começo e o fim. Ela dobrava a Augusta e se concentrava na saída de um estacionamento. Ao redor da fila, vendedores ambulantes vendiam fitas coloridas para amarrar na cabeça com os mais diversos nomes, como Rouge, Zezé de Camargo e Luciano, Daniel etc. Perguntei a umas meninas: “pra que é a fila?” Responderam impacientes, como se eu fosse a única que não soubesse: “pra rádio”. Não entendi. Lembrei que fãs se reúnem em frente de hotéis para esperar seus ídolos. Insisti: “no hotel?” Acho que ficaram nervosas por eu perguntar o que para elas era o óbvio. Resolvi tentar com outra pessoa. Pensei: “será que é emprego para rádio? Será que tem tanta gente querendo trabalhar na rádio?” Mas logo vi crianças e bebês e imaginei que o motivo da aglomeração era outro. Uma mulher, então, deu-me uma resposta mais completa: naquele momento havia vários artistas de TV reunidos na rádio. Não sei se a fila era para fotos e autógrafos ou as pessoas tinham a esperança de apenas ver seus cantores prediletos de perto. Deixei-as em paz. O evento era realmente sério. No estacionamento, um tumulto de pessoas, carros, seguranças e máquinas fotográficas. Um moço gritava: “Eu a vi, eu a vi!” Abandonei com pena o lugar, queria observar mais, ver aquela multidão, que esperava persistentemente na fila, se descabelar, gritar ao se deparar com as suas celebridades. Mas não vi. Os vendedores, sim, estes continuaram lá, e provavelmente apreciaram a cena, vendendo mais e mais fitinhas, para talvez preencher um pouco do vazio que a falta dos ídolos provocava naquelas pessoas.

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