Dias atrás vi na Paulista, sob pleno sol escaldante, uma fila enorme. Tive que andar muito para descobrir onde era o começo e o fim. Ela dobrava a Augusta e se concentrava na saída de um estacionamento. Ao redor da fila, vendedores ambulantes vendiam fitas coloridas para amarrar na cabeça com os mais diversos nomes, como Rouge, Zezé de Camargo e Luciano, Daniel etc. Perguntei a umas meninas: “pra que é a fila?” Responderam impacientes, como se eu fosse a única que não soubesse: “pra rádio”. Não entendi. Lembrei que fãs se reúnem em frente de hotéis para esperar seus ídolos. Insisti: “no hotel?” Acho que ficaram nervosas por eu perguntar o que para elas era o óbvio. Resolvi tentar com outra pessoa. Pensei: “será que é emprego para rádio? Será que tem tanta gente querendo trabalhar na rádio?” Mas logo vi crianças e bebês e imaginei que o motivo da aglomeração era outro. Uma mulher, então, deu-me uma resposta mais completa: naquele momento havia vários artistas de TV reunidos na rádio. Não sei se a fila era para fotos e autógrafos ou as pessoas tinham a esperança de apenas ver seus cantores prediletos de perto. Deixei-as em paz. O evento era realmente sério. No estacionamento, um tumulto de pessoas, carros, seguranças e máquinas fotográficas. Um moço gritava: “Eu a vi, eu a vi!” Abandonei com pena o lugar, queria observar mais, ver aquela multidão, que esperava persistentemente na fila, se descabelar, gritar ao se deparar com as suas celebridades. Mas não vi. Os vendedores, sim, estes continuaram lá, e provavelmente apreciaram a cena, vendendo mais e mais fitinhas, para talvez preencher um pouco do vazio que a falta dos ídolos provocava naquelas pessoas.
Em um dia qualquer de trabalho, um colega que sentava ao meu lado chegou de manhã com um livro velho nas mãos. Me mostrou e perguntou se eu queria, pois ele já tinha uma edição daquele título. Havia encontrado no térreo da empresa, em uma prateleira em que os funcionários costumavam deixar livros que não queriam mais. Era No caminho de Swann, de Proust. Aceitei, já que não tinha o livro, mas um pouco descrente de que leria logo, pois andava na correria. Ao abri-lo, tive uma surpresa. Na folha de rosto, estava escrito à caneta provavelmente o nome de sua primeira dona, Rita, acompanhado de uma data: 06/06/81. Exatamente o dia em que nasci. Até prefiro ler livros mais novos, mas, depois dessa coincidência, topei em começar a ler este exemplar de páginas amareladas, manchadas e cheirando a velho. Ainda não terminei a leitura. Fiz paradas e retomadas. Em alguns momentos de extensa descrição, cheguei a me perguntar se deveria mesmo seguir, mas o meu encanto com a fineza de pensamento e d...
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