Em uma longa viagem, de Florianópolis ao estado de São Paulo, o ônibus chegava à cidade de Curitiba. Na estrada, sinais de civilização, como algumas casas de periferia e estabelecimentos, ainda se misturavam com a paisagem natural da mata. Da janela, avistei um sapato vermelho de salto alto em uma encruzilhada. Este episódio aconteceu há anos, mas até hoje fico imaginando como este pé de sapato feminino foi parar ali. Será que estava lá há muito tempo, ou tinha chegado lá na noite anterior ou naquela manhã mesmo? Foi arremessado, esquecido ou abandonando propositalmente? Quem foi sua dona, ou dono? Estava quebrado? Tantos podem ser os motivos, mas eu não sei qual é o verdadeiro, apenas posso imaginá-los e ficar com a poesia da cena e dividi-la com você. Isto me dá um consolo.
O dia em que o encontrei considerei um dia de sorte. Estava cansada dos pedreiros enrolados e picaretas que costumavam prestar serviço no meu prédio. Mas, mesmo com poucas esperanças, fui perguntar ao porteiro se ele conhecia alguém que poderia pregar umas prateleiras e um varal, além de fazer outros servicinhos pendentes no meu apartamento. Foi quando ele apareceu. E logo o porteiro falou: "Acho que o Alemão pode". E voltando-se para ele: "Não pode, Alemão?" Alemão era diferente dos outros. Forte, largo, galego, parecia ter 1,70 de altura x 1,70 de largura. Careca, fazia-me lembrar do tio Fester da família Addams, porém, tinha uma generosidade em seu falar. Combinamos um dia para ele apaecer em casa. No dia marcado, Alemão atrasou. Os porteiros me informaram em qual apartamento ele fazia a reforma. Fui até lá. Com um moço, seu ajudante, ele trocava o piso de um apartamento vazio. Fazia o trabalho descalço, acentando aqueles grandes pisos de cerâmica no chão. S
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