Em uma longa viagem, de Florianópolis ao estado de São Paulo, o ônibus chegava à cidade de Curitiba. Na estrada, sinais de civilização, como algumas casas de periferia e estabelecimentos, ainda se misturavam com a paisagem natural da mata. Da janela, avistei um sapato vermelho de salto alto em uma encruzilhada. Este episódio aconteceu há anos, mas até hoje fico imaginando como este pé de sapato feminino foi parar ali. Será que estava lá há muito tempo, ou tinha chegado lá na noite anterior ou naquela manhã mesmo? Foi arremessado, esquecido ou abandonando propositalmente? Quem foi sua dona, ou dono? Estava quebrado? Tantos podem ser os motivos, mas eu não sei qual é o verdadeiro, apenas posso imaginá-los e ficar com a poesia da cena e dividi-la com você. Isto me dá um consolo.
Em um dia qualquer de trabalho, um colega que sentava ao meu lado chegou de manhã com um livro velho nas mãos. Me mostrou e perguntou se eu queria, pois ele já tinha uma edição daquele título. Havia encontrado no térreo da empresa, em uma prateleira em que os funcionários costumavam deixar livros que não queriam mais. Era No caminho de Swann, de Proust. Aceitei, já que não tinha o livro, mas um pouco descrente de que leria logo, pois andava na correria. Ao abri-lo, tive uma surpresa. Na folha de rosto, estava escrito à caneta provavelmente o nome de sua primeira dona, Rita, acompanhado de uma data: 06/06/81. Exatamente o dia em que nasci. Até prefiro ler livros mais novos, mas, depois dessa coincidência, topei em começar a ler este exemplar de páginas amareladas, manchadas e cheirando a velho. Ainda não terminei a leitura. Fiz paradas e retomadas. Em alguns momentos de extensa descrição, cheguei a me perguntar se deveria mesmo seguir, mas o meu encanto com a fineza de pensamento e d...
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