À noite, de volta para casa, do ônibus, ela quase sempre vê na Augusta o mendigo que durante toda a tarde fica na rua ao lado, às vezes quieto, às vezes gritando coisas sem sentido e assustando quem passa. Sim, mas é incrível como que à noite, em frente à Lanchonete Angolana, ele parece ter de volta toda a sua socialidade, sempre com um copo na mão e de vez em quando conversando com alguém. Para ela, ele sempre parecera alguém incapaz de dialogar com quem quer que fosse.
Um dia, depois de meses vendo a mesma cena, ela levantou-se antes do seu ponto. Meio hesitante, apertou o botão para parar. Por um momento se arrependeu, mas quando o ônibus parou, não havia ninguém mais para descer,e ela, meio sem jeito, saltou do ônibus. A Lanchonete Angolana estava do outro lado da rua. Pensou em continuar a pé o caminho para casa, mas por que estava alí? Tomou coragem e atravessou a rua. Passou ao lado do mendigo, ele com sempre, estava na calçada, com um copo plástico na mão, e não a percebeu. Ela ficou aliviada. Nos bancos altos dos balcões, dois homens bêbados conversavam com os donos do bar. Ela entrou: todos a olharam e ela quis ser transparente naquele momento. No cantinho, uma figura feminina: uma mulher morena, em uma mesa, com um homem careca. Será que eram casados?
Sentou do lado desta mesa, que era a que lhe trazia uma imagem mais familiar. Não que houvesse tantas opções. O bar era minúsculo e contava com apenas três mesinhas espremidas além do balcão.
Não tinha a mínima noção do que iria pedir. Quando lhe perguntaram, pediu no susto um copo de café. Ela não tinha costume de tomar café, muito menos às 11 horas da noite. Recebeu um copo americano com café quase até a borda. Tirou da mochila a folha com duas músicas que havia impresso naquela tarde e tentou se distrair com elas: "Se você não me queria, não devia me procurar, não devia me iludir, nem deixar eu me apaixonar". Arriscou olhar ao redor. Mal estar. Fixou os olhos novamente na folha de papel: "Don't let me down, don't let me down. Nobody ever loved me like she does". Músicas de fossa, pensou. Olhou aquele famoso pote com salsichas em conserva. Pensou em pedir uma, nunca havia experimentado. Olhou para o moço do balcão, ele olhou para ela, mas ela não teve coragem e perguntou timidamente: "Quanto é o café?". Colocou o papel de volta na mochila, levantou, pagou e saiu apressada. Andou com passos rápidos e largos até o ponto seguinte e esperou o próximo ônibus. O café ficou quase inteiro, ainda quente, na mesa.
Um dia, depois de meses vendo a mesma cena, ela levantou-se antes do seu ponto. Meio hesitante, apertou o botão para parar. Por um momento se arrependeu, mas quando o ônibus parou, não havia ninguém mais para descer,e ela, meio sem jeito, saltou do ônibus. A Lanchonete Angolana estava do outro lado da rua. Pensou em continuar a pé o caminho para casa, mas por que estava alí? Tomou coragem e atravessou a rua. Passou ao lado do mendigo, ele com sempre, estava na calçada, com um copo plástico na mão, e não a percebeu. Ela ficou aliviada. Nos bancos altos dos balcões, dois homens bêbados conversavam com os donos do bar. Ela entrou: todos a olharam e ela quis ser transparente naquele momento. No cantinho, uma figura feminina: uma mulher morena, em uma mesa, com um homem careca. Será que eram casados?
Sentou do lado desta mesa, que era a que lhe trazia uma imagem mais familiar. Não que houvesse tantas opções. O bar era minúsculo e contava com apenas três mesinhas espremidas além do balcão.
Não tinha a mínima noção do que iria pedir. Quando lhe perguntaram, pediu no susto um copo de café. Ela não tinha costume de tomar café, muito menos às 11 horas da noite. Recebeu um copo americano com café quase até a borda. Tirou da mochila a folha com duas músicas que havia impresso naquela tarde e tentou se distrair com elas: "Se você não me queria, não devia me procurar, não devia me iludir, nem deixar eu me apaixonar". Arriscou olhar ao redor. Mal estar. Fixou os olhos novamente na folha de papel: "Don't let me down, don't let me down. Nobody ever loved me like she does". Músicas de fossa, pensou. Olhou aquele famoso pote com salsichas em conserva. Pensou em pedir uma, nunca havia experimentado. Olhou para o moço do balcão, ele olhou para ela, mas ela não teve coragem e perguntou timidamente: "Quanto é o café?". Colocou o papel de volta na mochila, levantou, pagou e saiu apressada. Andou com passos rápidos e largos até o ponto seguinte e esperou o próximo ônibus. O café ficou quase inteiro, ainda quente, na mesa.
Comentários