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bebê seguro de si

Em seu carrinho confortável, escuro, estava protegido de quase toda a agitação do metrô. Assistia a tudo, como se estivesse em uma redoma, àquelas pessoas grandes, sentadas ou em pé com a aparência cansada, apática. Mas desprezava os sentimentos alheios, apenas olhava. Na verdade, estava mais entretido com seus pezinhos, os quais ele insistia em manter para o alto, apoiados na mesinha de refeições do carrinho. O fato de ser muitas vezes menor do que os outros ao redor não o intimidava. Estava seguro e tranqüilo na sua posição de bebê, curtindo sossegadamente o seu nada a fazer, assessorado por seus pais, sempre ao seu dispor. Mirei em um de seus olhinhos, brilhantes. Quis chamar a sua atenção, como fazemos geralmente com os bebês. Acho que me olhou durante algum tempo, mas sem nenhuma surpresa, sem nenhum sorriso. Com suas calças verde-água de algodão macio e um paninho fresquinho e branquinho deixado suavemente em cima de sua barriga, era como se estivesse há uns 30 anos no mundo. Caramba! Que nenê seguro de si. Porém, se estivesse aqui há uns 30 anos, tenho minhas dúvidas se seria assim tão seguro de si.

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