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vamos contar comigo?

Não tenho cara para criticar o trabalho dos jornalistas. Fazer reportagem não é fácil. É preciso tirar a bunda da cadeira e ir atrás da notícia, procurar as melhores fontes, lidar com gente mal humorada, grossa ou que nunca tem tempo. E além disso, sentir o desespero quando o prazo está acabando e a entrevista com a fonte principal ainda não deu certo. Diante de tanta pressão e esforço para sobreviver no emprego é possível entender porque aqueles mais fracos são capazes de atitudes tão baixas e tentam compensar a sua grande insegurança com comportamentos egocêntricos ou com uma competitividade excessiva.

Mas não é sobre isso que queria falar.
Lembro-me de um texto que fiz há alguns anos quando era ainda uma estudante de jornalismo. Uma entrevista com o dono de um bistrô pouco conhecido localizado ao lado de uma conceituada pizzaria de Florianópolis. Praticamente todo o movimento de carros e pessoas no local se dirigia à pizzaria. Portanto, coloquei na matéria o seguinte título: “Muito além da pizza”. Não sei explicar como a idéia me veio à mente, só sei que tanto o título como o texto arrancaram sorrisos, expressões de agrado e suspiros silenciosos da turma.
A pouca experiência e o deslumbre daqueles jovens estudantes os reservavam de uma realidade impregnada de clichês. Os “muito além de” estão em toda parte. Estava em uma padaria quando vi um deles pela primeira vez. Tentei ignorá-lo, mas isto foi tornando-se uma tarefa difícil com o decorrer do tempo. Neste último mês, por exemplo, trombei com três. Todos em um mesmo jornal. Não, não dá mais para ignorar. “Muito além das videocassetadas”, “Muito além do telefone” e assim vai. Acreditemos! Podemos ir muito além do “muito além”.

Comentários

Anônimo disse…
Muito além de um comentário.

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