Durante a minha infância ouvi, não lembro se de uma peça de teatro infantil, se de um filme ou de uma criança curiosa, que os fantasmas quando morriam viravam papel celofane. Lembrei disto hoje, quando procurava papel para enfeitar uma cesta de doces para a festa junina. Pensei a princípio, enfeitá-la com celofane vermelho, mas acabei optando pelos papéis de seda, que podiam ser vendidos avulsos. Na loja, havia celofanes de várias cores e os transparentes eram um pouco mais baratos. Mas os rolos com várias folhas eram mais opacos. Não tinham a transparência, a delicadeza e a fineza de uma folha sozinha, solta ao vento. Às vezes tenho a impressão que são como aquelas gelatinas sem sabor em lâminas, que ao contato com qualquer água morna, dissolvem-se.
E penso, quantos fantasminhas plufts, gasparzinhos e camaradas não estão hoje nas papelarias e lojas de artigos para festas? Esperando para enfeitar aniversários infantis, festas juninas, beneficentes e escolares.
Fazendo companhia a eles, os vidrinhos de lantejolas, gliter e purpurina. Sim, pois na minha adolescência, outra transformação me marcou. Em uma ficção na TV, um personagem disse que os travestis quando morriam viravam purpurina. Dito e feito. Um deles morreu, assassinado, e logo no chão apareceu um punhado de purpurina colorida que se espalhava pela cidade.
Portanto, os travestis enfeitariam, assim, aqueles personagens de isopor de festas infantis, os trabalhinhos escolares, as fantasias de carnaval, os carros alegóricos e o corpo das mulatas no sambódromo.
São imagens bonitas, imagino que criadas a partir da dificuldade do ser humano de não se contentar com o fim puro e seco. Mas o que me chama a atenção é que nestas crenças, parece que fantasmas e travestis têm um interesse em comum: ter alguma serventia depois de mortos, mesmo que como objetos. E mais: de trazer mais cor, alegria e brilho ao mundo.
E penso, quantos fantasminhas plufts, gasparzinhos e camaradas não estão hoje nas papelarias e lojas de artigos para festas? Esperando para enfeitar aniversários infantis, festas juninas, beneficentes e escolares.
Fazendo companhia a eles, os vidrinhos de lantejolas, gliter e purpurina. Sim, pois na minha adolescência, outra transformação me marcou. Em uma ficção na TV, um personagem disse que os travestis quando morriam viravam purpurina. Dito e feito. Um deles morreu, assassinado, e logo no chão apareceu um punhado de purpurina colorida que se espalhava pela cidade.
Portanto, os travestis enfeitariam, assim, aqueles personagens de isopor de festas infantis, os trabalhinhos escolares, as fantasias de carnaval, os carros alegóricos e o corpo das mulatas no sambódromo.
São imagens bonitas, imagino que criadas a partir da dificuldade do ser humano de não se contentar com o fim puro e seco. Mas o que me chama a atenção é que nestas crenças, parece que fantasmas e travestis têm um interesse em comum: ter alguma serventia depois de mortos, mesmo que como objetos. E mais: de trazer mais cor, alegria e brilho ao mundo.
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