Na empresa, atendi o telefone. Ajudei um senhor a resolver o seu problema, e ele, agradecido, disse-me na despedida: “Que a Nossa Senhora do Bom Parto lhe dê uma boa hora. Realmente, eu precisava de boas horas naquele trabalho. Achei muito interessante este modo de enxergar as coisas. Ao invés de se falar “uma boa tarde”, ou “um bom dia”, se falaria “uma boa hora”. Agora porque justo a Nossa Senhora do Bom Parto foi escolhida para cumprir esta função, e não um Nossa Senhora qualquer, eu não sei. Educadamente, retribuí a cortesia: “Para o senhor também”. E ele respondeu: “Ei, para mim não”.
Em um dia qualquer de trabalho, um colega que sentava ao meu lado chegou de manhã com um livro velho nas mãos. Me mostrou e perguntou se eu queria, pois ele já tinha uma edição daquele título. Havia encontrado no térreo da empresa, em uma prateleira em que os funcionários costumavam deixar livros que não queriam mais. Era No caminho de Swann, de Proust. Aceitei, já que não tinha o livro, mas um pouco descrente de que leria logo, pois andava na correria. Ao abri-lo, tive uma surpresa. Na folha de rosto, estava escrito à caneta provavelmente o nome de sua primeira dona, Rita, acompanhado de uma data: 06/06/81. Exatamente o dia em que nasci. Até prefiro ler livros mais novos, mas, depois dessa coincidência, topei em começar a ler este exemplar de páginas amareladas, manchadas e cheirando a velho. Ainda não terminei a leitura. Fiz paradas e retomadas. Em alguns momentos de extensa descrição, cheguei a me perguntar se deveria mesmo seguir, mas o meu encanto com a fineza de pensamento e d...
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